sábado, dezembro 31, 2005

JÁ É 2006

Daqui a pouco é 2006. Com que cara ele chegará? Esperança será minha palavra chave. Acreditar que teremos PAZ , que o País poderá diminuir suas desigualdades, que a violência sem controle seja vista como prioridade, que o problema da FOME seja encarado com seriedade, que os homens públicos deste BRASIL levem a sério o enfrentamento de seus problemas.
2005 deixou muita tristeza para milhões de pessoas, e no entanto é preciso sonhar. SONHAR com uma sociedade justa onde as pessoas se amem se respeitem ...
Na passagem do ano , estaremos em casa, velando pelo sono inocente dos netos queridos, Jonas e Margarete viajaram de férias e ficamos com esta doce responsabilidade. O tempo está curto , a Mariana está dando seus primeiros passos e necessita de assistência 24 horas. O corpo fica cansado , mas o coração está sempre carregado com pilhas novas. Vamos ter certameente uma noite tranquila , sempre agradecendo por tantas graças recebidas.
Para todos os amigos e familiares que tenham muita paz e alegria no coração para continuar a luta de todos os dias. Que amem sem medida e procurem ser amados. A felicidade é uma busca contínua e interminável. E é porisso que devemos viver a vida contando o tempo em minutos e não em décadas, anos, dias. Não podemos perder o tempo por achar que temos muito. Na verdade o que muda é o referencial, a maneira de contar. Tenho aprendido muito com o Jonas, que me leva a refletir sobre estas questões.
Marcelo e Edna , um feliz ANO NOVO para toda família e deixo aqui para vocês um beijo carinhoso. E viva nossos blogs que por intermédio da menina La Dutra nos aproximou.

sábado, dezembro 17, 2005

Parabéns!

O dia ainda não amanhecia, acordei feliz e agradeci a Deus por tantas graças recebidas.
Na ponta dos pés, acendi a luz do banheiro, deixei a porta entreaberta e voltei de mansinho para a cama, não queria acordá-lo. A luz indireta iluminava seu rosto bonito. Fiquei admirando o sono tranquilo deste homem tão amado, tão querido e que nos faz tanto bem há trinta e sete anos. Segurei com carinho a minha caixinha de lembranças, e viajei no tempo.
O encontro no ônibus, o começo do namoro, dúvidas, brigas, desencontros e reencontros até que decidimos casar. Enfrentamos tudo juntos, doenças quando apareciam, falta de dinheiro, incompreensões, mas nada interferiu na nossa relação. Cada filho que nascia mais nos aconchegava e nos unia. Sempre fomos e somos companheiros, amigos e apaixonados.
Você, meu Zezinho, é sempre otimista, nunca perdeu sono por nenhum problema, a alegria faz parte constante da sua vida. Mesmo quando as coronárias falhavam, você dava um tempo, dava a volta por cima e continuava firme e forte. Sério, mesmo sendo a pessoa mais brincalhona que conheço, pai exageradamente paciente e avô sem igual. Nunca foi de guerra, problemas não esquentam a sua cabeça. Te digo tudo que você já sabe: você é o homem mais bonito, mais perfeito, mais alegre, mais inteiro que existe neste mundo. Estes momentos são eternos não dá para descrever esses sentimentos: as lágrimas molharam meu rosto de felicidade incontida.
Parabéns, meu amor, você é o homem da minha vida. Lhe sou grata por tanto amor recebido, por toda a paciência que sempre tem comigo, por não interferir na minha vida, pelo carinho do leite morno que me leva na cama antes de dormir... enfim por toda esta caminhada florida que vivemos até hoje. Não dá para lembrar os dias difíceis, são tão poucos.
A sexta-feira foi movimentada, muitos telefonemas, muitos abraços de parabéns. À noite, apareceram os amigos, aqueles que a gente já espera e sabe que não deixam passar em branco. Te amo demais.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Generosidade

A caixa foi entregue na portaria.
Lúcia, que presente é este? Deve ter um cartão dentro.
Abro a caixa com cuidado, uma carta, reconheci a letra da amiga querida, li e tive a sensação de que não merecia aquele presente, não podia ser meu, me pareceu objetos sagrados. Entendi o sentido do presente, no dia anterior, havia me encontrado com ela e uma amiga que estava usando uma pulseira. Comentei: Mirza veja que pulseira bonita.
Segurei cada objeto, um por um, devagarinho, não tive pressa... Sentimentos vários. Liguei para ela, preocupada pensando no que deveria dizer Mirza, esta caixa não pode ser minha, vamos conversar .................. ....................... .............................................................................. .......................... entendi que não deveria insistir.
Este momento foi tão valioso para mim que quis dividir com outras pessoas. Vejam que carta, guardei junto a tantas outras que recebi dela ao longo dos nossos trinta e poucos anos de convivência.

Minha querida Ritinha,
Minha Ritinha
Quisera poder adivinhar seus pensamentos. Iria até ao céu, ao fundo do mar, ao Everest (é assim que se escreve?)
Imagine: não sabia que você gostava de pulseira assim... Há poucos dias dei para uma prima um lindo bracelete trazido da Índia para mim. Deixei de usar colares, brincos, anéis e pulseiras exageradas como usava na minha mocidade. A gente deve se vestir e usar os adereços de acordo com a personalidade, com a idade etc.
Vejo algumas pessoas já sem vivacidade no corpo, sem expressão corporal, com exagero. Os colares parecem pesarem no colo, as pulseiras e anéis não se harmonizam com a voz já tão pausada, andar lento...
Esse seu riso, essa sua alegria, sua juventude eterna, essa sua vibração afetiva, emocional com todas as pessoas, suas coisas bem personalizadas. Você é glamorosa, combinam com você.
A pulseira de pedra, dá para aproveitar. As outras quem sabe poderão ser restauradas. Eu penso assim: Se mandasse essas pulseiras para qualquer pessoa, iria dizer: Mirza mandou-me umas porcarias. Mando-lhe minha história, minha identidade que o tempo devorou. Olhei-me no espelho e compreendi que confiei demais nele. Confiei na realidade do tempo. Mas ele é também construção. Quem forjou essa Mirza velha, senão o tempo? Quem fortaleceu esta fé, esta coragem e este amor, senão o tempo? É um paradoxo: ele nos limita o corpo, mas o espírito fortalece quando temos fé, uma infinita fé em Deus. Só o que nos abastece o espírito é a confiança em Deus, no Espírito Santo. Aprendemos a perder, aceitamos as separações, resistimos às intempéries. Grande exemplo a quem leu o texto da neta do tio Firmino. Depois da missa dei carona à uma amiga dele do Correio. Grande amiga aquela! No percurso até sua casa, com lágrimas recordava a pessoa linda, o grande amigo que foi o tio Firmino. Lembrei-me da querida Ocilma, sozinha sentada no banco do Parque da Paz, chorando a morte do Klebinho. Aproximei-me simultaneamente, chegou um amigo dela para dar-lhe os pêsames. Você é a irmã dele? A Tetê? Chorando inconsolavelmente, trêmula, apontou o dedo: não, a irmã dele é essa aí, eu também sou irmã, ele era mais que um irmão... Digo que eles nunca namoraram, eram como irmãos-amigos. Lindo, não acha?
Voltando às pulseiras, umas são da década de 70, outras da década de 80. A preta, peruana, ganhei nos meus 15 anos de um tio. Acho lindas estas de pedras coloridas, foi um sucesso! Em cada uma um pouco do meu amor por você. E esta minha gratidão eterna. Fico com a minha história que é eterna. Felizes os que têm histórias para contar, principalmente quando tem-se barreiras, doenças, sofrimentos que foram enfrentados e superados com a ajuda de Deus, através dos amigos. Beijos carinhosos da Mirza. Que em matéria de tecnologia parou no tempo. Ando procurando um toca disco de long play. A única coisa que digito são as contas do rosário.




Mirzinha querida,

Você me fez uma surpresa indescritível, li a carta e fiquei indecisa como mexer no seu conteúdo, me pareceu composta por peças sagradas. Sinto que não mereço tanto... colares e pulseiras de marfim, de sementes, de pedras, de pérolas. Sou uma eterna devedora de tanto carinho e ternura que recebemos de você. Mariana ficou deslumbrada “Mãezinha, quero usar tudo, tenho muito cuidado” .
Deus te abençoe e obrigada por tudo.

terça-feira, dezembro 06, 2005

A arte de ser avó

" Netos são como heranças: Você os ganha sem merecer.Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu ...É como dizem os ingleses, um " Ato de Deus". Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto. O neto é, realmente, o sangue do seu sangue, filho do filho, mais filho que filho mesmo...
Cinquenta anos, cinquenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos , que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações; todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto,mas acredita. Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos,às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores com paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essa efervescência. A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade.
Braçinhos de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças?
Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os apartamentos e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres- não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da festação ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê. Completamente grátis- nisso é que está a maravilha.
Sem dores, sem choro, aquela criancinha da qual você morria de saudades, símbolos ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um filho seu que lhe é devolvido.
E o espanto é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância. Ao contrário, causaria espanto, decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá netos para nos compensar de todas as perdas trazidas pela velhice.São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono abre o olho e diz " Vô" seu coração estala de felicidade, como pão no forno!

Raquel de Queiroz

sábado, dezembro 03, 2005

GRATIFICO

Cadê minha foto? O que fizeram com ela? Gratifico a quem souber... Vou colocar nos classificados.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Reedição de afetos

A casa está em festa. Acho que hoje não vou conseguir dormir. Parte da família de São Paulo chega amanhã, os netos amados Pedro e Matheus. Preparei a iluminação da varanda, árvore de natal, enfeites e a cesta com os chocolates preferidos. A rede branca que guardo com carinho vai estar na varanda esperando por eles. Depois é observar aqueles balanços inquietos e exagerados. Sempre moraram fora, mas não me acostumo com a danada da saudade. É engraçado, nos falamos sempre, sempre, participamos de tudo que acontece por lá, mais isso não basta. Preciso daqueles abraços sem pressa, dos beijos, dos apertos, das cosquinhas, das histórias engraçadas, da reza antes de dormir, das gargalhadas que enchem a casa, das perguntas inesperadas e das teimosias também. Tenho absoluta certeza de que estão bem, São Paulo é mesmo onde devem morar, estão adaptados e felizes mas tenho a sensação de que o tempo passa rápido demais e que logo serão adultos (Matheus já se acha adolescente com 11 anos) e perco essa convivência maravilhosa da infância. Quando chegam esqueço o relógio e guardo o calendário até chegar o dia da volta.
Dia 17, chegará o resto da turma: Jonas, Loura, Mariana e Inês. O grupo estará completo e o coração abastecido. Sou chamada por alguns de avó exagerada, mas gosto de fazer as coisas por inteiro, e esse presente precioso de ser avó me leva a enfrentar qualquer desafio, me entrego inteira e isto me faz feliz. Convivo com algumas pessoas que acreditam que ser avó é gostar do neto sem assumir responsabilidades, é deixar fazer o que quer sem limites. Já ouvi esta burrice "avó é para desmanchar o que o neto aprende na casa do pai". Penso bem diferente. Ser avó é orientar, discutir, ouvir, ser participante na construção da história de vida dos netos, é colaborar com a educação dada pelos pais. Os avós são mais pacientes, porque têm mais tempo e não estão no fogo cruzado na luta da sobrevivência. É uma experiência diferente, é a oportunidade de reviver emoções fortes, reconhecer a necessidade de se tornar mais jovem para sentar no chão, brincar de construir castelos de areia, sujar as mãos de argila, ninar os netos com canções que embalou os filhos, reinventar histórias já contadas colocando outros tons e outras cores, tudo isso fortalece o sentimento de uma ternura inexplicável. Todas estas coisas parecem tão simples e são experiências enriquecedoras. Um sentimento ampliado de cumplicidade com o filho que parece até mais querido, por ter nos dado este presente precioso. É a maravilha de ter filhos, de SER DE NOVO. Reedição de afetos.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

O Pé Quebrado

A fisioterapia é um exercício de paciência. Hoje completo trinta e três sessões. Estou muito melhor, graças a Deus, mas como o pé continua inchando, não tem outro jeito...
A clínica é ampla, e o movimento de clientes é muito intenso. Pessoas que entram, pessoas que saem, raramente dão bom-dia ou até logo. Sei que não é fácil conviver com a dor e o desconforto. Na sua maioria são idosos. Cadeiras de roda, muletas, rostos tristes e tensos. Enquanto chega a minha vez, tento adivinhar o que "vai na cabeça" de cada um deles. Tempo que aproveito para refletir sobre a velhice e a necessidade de ter uma vida mais saudável. O silêncio na sala é quebrado sempre que os aparelhos disparam quando completam seu tempo. É a hora de avisar a fisioterapeuta.
Fulana, terminou.
Vou já seu fulano,
um minutinho,
estou indo

Estão sempre sobrecarregadas.
Sexta-feira, pela primeira vez, fui chamada para uma das camas do grande salão, que sempre está ocupado. Até aquele dia, só tinha sido atendida nos boxes individuais. Na cama vizinha, um senhor espera atendimento. Me olha e pergunta sobre a fisioterapeuta, era seu primeiro dia.
ela é um doce de pessoa, alegre e delicada, está sempre de bem com a vida
Me responde, aliviado: que bom, tive que casar três vezes para poder acertar. Fiquei alerta para entender tudo que queria me dizer com aquele comentário. Não precisou muito tempo. Logo iniciou o seu monólogo: fui uma criança muito danada e apanhei muito do meu pai, não se referiu a sua mãe. Casei com dezenove anos, e ela tinha vinte e nove. Cedo me separei, tenho um filho de vinte anos que mora em outra cidade com a mãe, quando preciso encontrá-lo tenho que viajar.
Fala com entusiasmo em sua terceira mulher.
Ela não trabalha fora e dá conta de tudo, é exigente com as crianças, que têm horário pra brincar, estudar, computador.
Sorri quando fala na caçula de três anos e compara a diferença de tratamento entre ela e o filho de onze anos. Com ele foi muito enérgico, mas ela faz tudo e não é repreendida por mim, a mãe é que resolve. Seu casamento está uma maravilha, acha que desta vez acertou.
Mas ela foi orientada... Quando estou calado é porque não gostei de alguma coisa, não adianta insistir, só converso quando passa tudo, foi a maneira que arranjei para não magoá-la.
Tem planos de ir morar numa cidade do interior, busca uma vida mais calma.
Mudei muito depois que sofri um acidente, agora não vivo correndo, se chegar atrasado no trabalho, cheguei.
Tive vontade de conversar sobre a forma como lidam com as crianças, mas deixei que terminasse sua conversa e entendi sua expectativa com relação à fisioterapeuta. Dúvidas, indecisões, inseguranças, certezas e incertezas. Mas gostei de ter podido ouvi-lo. Terminei meu tempo e fui embora um pouco mais leve, talvez.
Segunda-feira novamente sou atendida no salão. A moça ao meu lado reclama do joelho, o médico proibiu, mas não quero nem saber, não posso parar a academia Bonita, corpo sarado, boazuda, o short jeans parece que não foi vestido, mas colado ao corpo.
O senhor da cama do outro lado fala que já me encontrou em algum lugar e conversa calmamente sobre sua vida profissional, aposentado, mas não deixou amigos no trabalho. Na época da repressão, foi punido e espera uma indenização. Fala da morte de um irmão e da sua adolescência na rua Dom Manuel. Terminamos descobrindo amigos em comum. O senhor da sexta-feira, cujo nome não sei, entra e cumprimenta a todos. De repente, todos estavam envolvidos na conversa, sobre suas mazelas físicas que os tem levado a fisioterapia. A sala parece acordar, é a primeira vez em que sinto vida naquele local, observo o barulho da sala, parece ter ficado mais clara. Meu tempo acabou e fiquei ainda uns minutinhos participando daquela conversa. Vamos esperar para ver se muda alguma coisa. Saí com vontade de cantar. Algumas pessoas acreditam em destino, outras em encontros de vidas passadas, outras iriam questionar por que depois de 28 sessões é que fui achar uma vaga no salão, e conseqüentemente, encontrei aquele senhor. Sei lá... São momentos diferentes que temos que viver para aprender mais com outras pessoas.