segunda-feira, setembro 20, 2010

Caros filhos,
Já passava da hora de escrever umas linhas especialmente a vocês. Talvez isso não faça sentido nenhum, talvez até não invistam nesta leitura.
A nossa vida é maravilhosa, temos tudo a mão, basta querer. Infelizmente vivemos em uma sociedade extremamente injusta, da qual fazemos parte, cheia de diferenças sociais. Isso faz toda a diferença na forma que olhamos o mundo e principalmente no nosso dia a dia.
O que aconteceu com vocês ontem não será uma novidade, isso na maioria das vezes se deverá ao fato de que uns podem entrar no Mucuripe enquanto outros ficarão do lado de fora.
Vocês estão crescendo e como passáros começam a dar seus primeiros vôos solos, será natural encontrar o inesperado, seja ele físico ou mental. No caso dos humanos, assim como dos pássaros, temos que tomar alguns cuidados para não fazermos o último vôo tão cedo.
Os cuidados parecem básicos e óbvios para os pais, sempre nos embuimos de um tom professoral, cheio de moral, razão e principalmente sabedoria. Seríamos uns bobos que não entendem de nada? Uns velhinhos que não conhecem o mundo dos twitteres ou formsprings? Não, não é nada disso, o fato é que já vivemos tudo isso antes de vocês, já tomamos sustos, corremos muito riscos, fizemos coisas erradas, algumas temos até vergonha de contar, magoamos pessoas, etc... Mas uma coisa deve ser dita, os pais como nos, que hojem falam tem que ser ouvidos. Somos "pássaros" vivos, voamos, levamos porradas, ventos fortes, perda de rumo, mas estamos vivos e aprendemos muito, amadurecemos.
Quando minha mãe ou meu pai diziam: "Meu filho não faça isso que vai dar errado". Eu, como vocês, achava que era uma bobagem, pensava que minha mãe torcia contra, e que aquele pensamento não fazia sentido, era porque ela não tinha a minha idade. Advinha: Pau!!! Era certeza dar errado, claro que ela não acertava sempre, como também eu e sua mãe não acertamos, mas na maioria das vezes ela enxergava longe. Assim como uma águia...
Por falar em águia, também temos uma águia em casa. A sua mãe é uma mulher guerreira, defensora da sua família, sempre alerta, exerga como niguém. Também teimosa, digo, muito teimosa, mas todos somos assim, temos qualidades e pontos a desenvolver. Quando ela reagiu de forma dura, certamente foi porque pensou que no "cidadão" que feriu seus pássaros e pensou que se pudesse o MATAVA, rápido como uma ave de rapina. Não sejam tão duros com ela, sempre os defendeu com "garras e bico" forte.
Sinceramente dei graças a Deus que o celular se foi, isso servirá para que os meus "gaviõeszinhos" aprendam a se defender sozinhos. Aprendam a ouvir os nossos conselhos. Tem tanta erros novos para cometer que deveríam evitar as "velhas armadilhas".
É isso ai!!! Levanta sacode a poeira e dá a volta por cima!!!
Amamos vocês mais que a nós próprios, por isso por favor vejam por onde andam, ou melhor, voam.
Beijos
Hárpia


P.S.: O Matheus receberá um Motorola PT 500 de presente...

email que Jonas enviou para o Matheus quando foi assaltado, férias de julho
--------------------------------------------------------------------------------

domingo, setembro 19, 2010

O maior amor do mundo

O maior amor do mundo



Sempre que puder, divido com vocês uma pessoa. Muitas vezes vou aproveitar pra conhecer essa pessoa melhor, ou vou só partilhar a maravilha que é alguém, pra você sentir um pouco do que eu sinto. Quem estreia o espaço no blog é a Rita minha mãe.

A Rita veio pra Fortaleza ainda pequena com a outra Rita, sua mãe, de quem herdou o nome e a força de viver. O vovô Jonas, pai da Rita, faleceu quando ela tinha seis meses e, pela graça de Deus, ela teve um avô com quem dividiu o seu amor. O nome dele era João Firmino e foi seu segundo pai. Ainda hoje, depois de 12 anos, ela fala dele como se aqui estivesse.

A Rita é alegre, tem a gargalhada generosa, um olhar quase inocente, quase doce, mas sem perder a firmeza quase nunca. Quando a Rita perde a firmeza, o mundo inteiro parece fraquejar. A mesa da Rita serve os melhores peixes da cidade, com os molhos sem receita feitos pela Terezinha, sua fiel escudeira que morou lá em casa por quase 20 anos e que agora nos ajuda esporadicamente, porque foi viver sua vida, criar seu filho, curtir seu marido e sua casa própria.

Em 1968, depois de ganhar um LP do Chico Buarque cantando Retrato em Branco & Preto, ela se casou com o William, o grande amor da sua vida e seu companheiro de todas as horas, com quem vive até hoje num apartamento muito bem arrumado e bem cuidado no Cocó.

A Rita tem o Jonas, que nasceu em 1970 e foi a criança mais danada que eu ou você podemos imaginar. Em 1975 nasceu a Mila, um doce. Em 1982, nasceu eu (sic). Em 1994, o Jonas chegou lá em casa dizendo que estava grávido, junto com a Margarete, uma mulher loura que ele teve a sorte de conhecer na faculdade de psicologia. Ainda em 1994, o Jonas chegou lá em casa dizendo que eram gêmeos. Nasceram Pedro e Matheus, os netos mais amados e bem criados que eu ou você podemos imaginar. Depois, já em 2005, veio a Mariana pra alegrar ainda mais a casa do Jonas, e em 2007 veio o Lucas, um pinga fogo inteligentíssimo que nasceu pra Milena e pro Felipe. Todo mundo espera o meu. Mas eu acho que ainda demora. Com vocês, toda a beleza, a sagacidade e a doçura da Rita:

Beautifro – Quantos anos você tem e o que é que você fez pra Deus pra ter esta pele?

Rita – Depois dos sessenta parei de contar os anos. O bom é contar os dias para viver mais. Brincadeira, são 67 bem vividos. A pele é exagero seu. Nunca fui vaidosa como você. Uma vez ou outra começava algum tratamento dermatológico, mas nunca concluía, e os produtos perdiam a validade. Em 91 tive um câncer de pele , levei a sério e virei adepta fiel do filtro solar. Vou a dermatologista com frequência. Depois do câncer não deixo por menos e já não sei quantos sinais foram retirados. Limpo minha pele com loção Renew da Avon e uso meu amigo Revaleskin da Stiefel e filtro solar da Isdin, Fotoprotector Extrem 50.

Beautifro – Quem mora com você?

Rita – Eu e meu Zezinho. Está faltando uma secretária competente. Nos meses de julho, dezembro e janeiro a casa se enche de alegria, barulho e animação. Os dois viram doze.

Beautifro – Qual é o filho mais parecido com você?

Rita – Modéstia a parte, minha filha, os três parecem comigo.

Beautifro – E o neto?

Rita – Segundo seu pai, é o Pedro. Fisicamente, acho a Mari caçula.

Beautifro – Em quantas casas você já morou e qual a casa que mais marcou você, onde foi mais feliz, que tinha mais coisas que se pareciam com você?

Rita – Nesses 41 anos de casados moramos em sete casas. Tenho lembranças bonitas de todas elas. Cada uma com a sua história. Não consigo escolher onde fui a mais feliz. A mais animada foi a da Silva Paulet, a vida era uma festa. Casa sempre cheia, jardim para curtir, secretárias competentes e dedicadas. A da Ana Bilhar talvez seja a que tenho mais saudade, foi o aprendizado da convivência com dois adolescentes e com uma menina inquieta. Aprendi muito, e o juízo era tão questionado que ardia. Louvo a Deus pela assessoria que tive da Terezinha, que sabia exatamente o que precisava me contar. Depois é que descobri outras travessuras.
Bom demais.

Beautifro – Qual é sua hora preferida do dia?

Rita – Quando acordo. Gosto muito de abrir a janela, olhar o mundo, observar as pessoas que passam na rua, ver o verde do Cocó, agradecer a Deus. Meu primeiro exercicio é ler o jornal O Povo, depois aguar minhas plantas.

Beautifro – O que dá mais trabalho?

Rita – Não entendi. Sinto falta de uma secretária eficiente.

Beautifro – Você diz muito palavrão?

Rita – Sim, guardei um bocado numa gaveta até vocês crescerem , depois soltei a franga. Naturalmente que sei me comportar, tem a hora e o lugar.

Beautifro – O que você acha deste blog?

Rita – Leio todo dia, mas ainda hoje tenho saudade do Faniquito e do Brusk. E do Disparate do Demo.

Beautifro – Você adora maquiagem?

Rita – Não, embora tenha também minha maletinha. No dia a dia uso filtro solar da Isdin, um corretivo para olheiras MAC e batom vermelho. Quando vou sair gosto de uma maquiagem discreta. Eu gosto quando você me maqueia, mas não gosto de olho preto.

Bautifro – Qual seu esmalte favorito?

Rita – Perdi a conta dos anos só uso esmalte vermelho. Não consigo usar outro.

Beautifro – Quem é sua melhor amiga? Me diga uma coisa que você adora nela.

Rita – Graças a Deus sou privilegiada. Tenho grandes amigas. É dificil escolher uma. A minha família do coração é uma graça de Deus. A Stelinha não entra nesta lista. Não dá para descrever tudo que ela representa nas nossas vidas.

Beautifro – Tem alguns cheiros que me lembram imediatamente você: toalha recém-lavada, óleo Séve da Natura, perfume Paloma Picasso, arroz de leite fumegando. Tem algum cheiro que você se lembre de mim?

Rita – Cheiro, cheiro é da lavanda Jonhson, Giovanna Baby, depois vc se tornou muito exigente com os cheiros artificiais. O cheiro bom mesmo é o seu, o que deixa quando passa por aqui, é um cheiro diferente, é o bem querer que espalha pela casa. É o cheiro que passa por mim nas horas da saudade.

Beautifro – O que você guarda com mais amor?

Rita – Tudo que guardo tem amor pelo meio. Todos os “escritos” de vocês, bilhetes do seu pai, cartas da mamãe, de amigos, recortes de jornais, cartões de aniversários, e-mails, desenhos dos netos, os retratos são um capítulo à parte. O arquivo é grande.

Beautifro – É verdade que você faz UMA LISTA de tudo e que tem uma agenda cheia de listas?

Rita – É exagero seu. Tenho uma lista das minhas jóias, já separadas indicando as futuras donas e donos. Uma lista dos aniversariantes de cada mês. Depois de ter sido roubada várias vezes, fiz uma lista das coisas que são importantes para mim. A minha agenda é preciosa, anoto as contas, pagamentos, providências e até as dívidas de algumas pessoas. Nunca se deve perder a esperança.

(Nota da editora: sei que este recado foi pra mim, mas eu tô achando tanta graça, que daqui a cinco minutos vou esquecer).

Beautifro – Pra quem você queria mandar um beijo?

Rita – Depois do seu beijo, mando outros pra todos que quero bem. É muita gente, né?

Blog novo da Mari beautifro.wordpress.com
Beatriz senta todo dia 12 na cadeira de balanço da varanda. O giro que
muda o canal da TV já não funciona mais. Seu pó de arroz foi esquecido
no fundo armário e a raiz branca do cabelo toma o lugar de suas mexas
louríssimas herdadas da desastrosa raça formada em seu interior com o
resultado dos índios nativos e dos holandeses recém-desembarcados.
Beatriz se lembra de Teixeira, e de quando na hora marcada, sem ajuda
do gmail, do celular, do twitter, das temidas direct messages ou de um
sinal de fumaça, ele aparecia no parapeito da sua janela. Teixeira,
que nunca faltou. Teixeira, que só podia vê-la à tarde mas nunca
faltou um dia doze de junho naquela varanda quente da Aldeota. Alguns
parcos doces ali da Leite Albuquerque, um vidro de almíscar, um botão
de rosa ainda fechado da Praça do Hospital Militar. Mas ele chegava.
Blusa engomada, vindo da repartição, um cheiro de dia, de trabalho, de
frescor. Teixeira ficava até a luz mudar, até o dia cair, até a hora
em que precisava, quase como num susto, ver os filhos e a felizarda
oficial esposa, no papel e na contracapa da coluna social. Teixeira
cheirava os cabelos louros de Beatriz e dizia: Loura, meu coração fica
contigo. E se ia. Todas as amigas carolas da Igreja do São Vicente,
por mais nascidas nos 20 que fossem, aceitavam o Teixeira. Todo mundo
mandava bolo pro Teixeira tomar com café, um baralho novo pra casa de
Beatriz pra esperar o Teixeira para o carteado e uma caneta nova pro
Teixeira despachar na repartição. Um dia, em 1998, não se sabe
direito, Beatriz, o cabelo ainda cheirando à tintura bigen na raiz,
sentou na varanda, e o Teixeira não veio. O filho veio buscar mais
tarde:
- Você é Beatriz? Papai quer vê-la.
No carro com o primogênito de seu amado, ela teve vontade de dizer: -
Seu dente de leite caiu em 74. Você odeia queijo. Você era o melhor
aluno da sala. Teixeira finje que Natália é a favorita mas gosta mesmo
é de você. Você também tem uma namorada. Você é um bom rapaz. Mas se
limitou a perguntar:
- Você é quem?
E até hoje Beatriz lembra da cena no hospital, do Teixeira entre a
vida e a morte prometendo a Beatriz que no céu não tem essa besteira
de exclusividade, e que a Planaltina haveria de entender que não era
problema se os três vivessem felizes para sempre no reino dos céus.
Bordando, permanece na varanda pensando no cheiro de trabalho que o
Teixeira exalava. Hoje Beatriz sentiu um arrepio que começou no pé, e
deu um grito ensurdecedor que acordou a Torres Câmara da siesta
sagrada:
- Mamãe! O Teixeira.


Mariana escreveu este texto junto a outros que escreveu para a revista Aldeota. Não sei porque este foi excluído. Parte dessa história é real e foi vivida por uma amiga minha de coração.

DECOLAR

"Atenção tripulação decolagem autorizada! Apenas a frase é sempre a mesma, ao decolar sinto realmente que um pedaço especial do meu passado acaba de ficar em terra e outros fragmentos serão construídos em outra viagens ao redor do Globo.


Atenção tripulação decolagem autorizada! Apenas a frase é sempre a mesma, ao decolar sinto realmente que um pedaço especial do meu passado acaba de ficar em terra e outros fragmentos serão construídos em outra viagens ao redor do Globo.
O sentimento seria muito obvio se estivesse eu decolando de qualquer parte deste sítio chamado terra, mas existe uma grande diferença, pois estava eu deixando literalmente minhas Fortalezas, mais uma vez todas ali nas esquinas do prado literalmenre furtado.
Decolar da Fortaleza de Nossa Senhora da Assuncao é e sempre será um enorme desafio, muito mais do que partir, é como se tivesse queimado mais um "cartucho" da vida, a diferença é que neste caso não sei quantos ainda me restam.
A memória esta mais escassa e o tonus já não é mais o mesmo. A única coisa inesgotável é o carinho, sempre em caminho inverso as perdas notadas.
Força! É disso que precisamos todos os dias. Agradeçamos a Deus pela chance de lutar, infelizmente nem todos recebem este presente. Hoje ao ver o Lucivan descer do carro cabisbaixo me pus a pensar o que teria feito aquele homem, digo aquela família inteira simplesmente desaparecer? Seria um sinal? É, aprendi com a vó Rita que Deus fala através dos fatos e desde este dia quase nunca mais fechei os olhos e ouvidos a isso.
Lutam os que ainda podem lutar, seria um pecado desperdiçar esta possibilidade, principalmente se a nos foi oferecido todos os recursos para esta opção.
Um museu, lugar de honra da nossa memória, tem como dia solene o festejo da sua abertura e não do seu fechamento ou reforma. Vamos! Acorda memória, va em frente "jamevus", "dejavus", "deixavir", e tudo o mais que possa se apresentar.
Lucivan amigo, a você o nosso respeito e consolo para que você se recupere logo e volte a decolar muito em breve... O seu carro é verde e certamente você não escolheu esta cor por acaso. Esperança irmão.
A mão de Deus nos toca a cada um de maneira individual, com um nível de intensidade diferente, marcando a nossa vida para sempre. O que eu acabei de dizer mesmo? A minha memória, cada vez mais desafiada, ou des afiada? Já não sei mais.
Enquanto houver sol ainda haverá.... Enquanto houve sol... Sempre, sempre, sempre, sempre há de haver esperança.
Lembrei!!! Graças a Deus. O que queria dizer era que:
A casa dos pais sempre foi e sera para a maioria dos filhos um eterno Porto serguro. No nosso caso é muito mais do que isso, não só pelo simples fato de ficar em Fortaleza, mas principalmente pela energia espetacular que ela tem.
No nosso caso, somos literalmente aves migratórias que passam por aqui duas vezes ao ano rumo ao futuro ate que ele perdure.
O tempo! Tic, tac tic tac tic tac, o que teria o tempo a ver com isso? Tudo! O tempo não perdoa e faz com que tudo seja realmente único, rápido, fulgas e deixa na mente um gosto de quero mais. A feliz analogia da ladeira martela minha mente sem parar, na verdade querido tio PH estamos todos nesta ladeira e cabe a nos nos cuidarmos e aos nossos todos os dias para usar o freio ou até mesmo o acelerador com cautela. Obrigado por abrir algumas janelas e mostrar o lindo sol lá fora, porque enquanto houver sol...
Atenção tripulação pouso autorizado! Hora de chegar na minha morada e voltar ao dia a dia. Morada. Que morada? É verdade, a minha morada não é aqui, aqui é apenas a minha casa.
Desembarque autorizado........…
Do avião que eu estava desceram pelo menos 240 historias diferentes, certamente varias delas lutam todos os dias para mudar seus destinos"

Jonas Marques Neto
sempre que volta para São Paulo meu Joninha escreve seus textos, guardo todos mas alguns me tocam o coração de maneira diferente