sexta-feira, junho 30, 2006

O que faz a diferença?

Quem passa por aqui sabe que gosto muito de contar minha experiência pelas andanças da vida, das ruas, dos consultórios, das praças, onde encontro pessoas.
Outro dia acompanhei uma amiga muito querida à Clinica do Dr. Bogus. Ela precisava fazer uma Ressonância Magnética e estava muito estressada, havia um pré-diagnóstico de séria doença neurológica. O exame foi marcado para 18h. Depois de esperar pacientemente por duas horas, resolvemos perguntar à atendente quantas pessoas seriam atendidas antes dela. A moça respondeu: "Ainda temos um joelho, dois crânios e uma coluna". Fiquei assustada. A primeira sensação que me passou pela cabeça: aqui se examina peças do corpo, as pessoas estão com peças doentes que necessitam de um diagnóstico mais preciso. As peças são partes de um todo. Não esqueci e comentei com várias amigas aquela resposta. Não tivemos a oportunidade de conhecer o médico que realizou o exame. Por acaso, entrei rapidamente na sala do exame, e o vi pelo visor da sala onde fica para acompanhar. Confesso que tambem não o procuramos depois. E nem ele.

Mal sabia que no mesmo mês estaria novamente no mesmo local, acompanhando o William que, de repente, apareceu com um problema no braço e que também precisa de um diagnóstico mais preciso.

William queria a todo custo fazer o exame ontem e, do consultório do querido Dr Tarcisio Araújo, fomos para a Clínica. Chegamos às 18h e saimos às 22h30. A espera não incomodou, pois sabíamos que o exame não estava marcado. Ficamos Mariana e eu tentando conversar amenidades, contar piadas ou ouvir músicas. Nunca tinha visto William preocupado com doença, nem na véspera dos três cateterismos que já fez. Mas o médico que fez a ultrassonografia falou que necessitava de uma biopsia e ele se assustou muito.

Tive algumas surpresas. Quando chegou sua vez, o médico fez várias perguntas sobre o encaminhamento do exame, sintomas etc. De repente saiu da sala e nos olhou: O que houve com o Seu William?
Durante o exame e após, saiu da sala ao todo três vezes para conversar conosco. Ficamos mais tranqüilos e agradecidos. Orientou que o procurasse hoje à tarde que, mesmo sem o recebimento do laudo, me falaria do diagnóstico. William teve a sorte de ter sido chamado pelo nome e não ser visto apenas como um braço doente. E mais uma vez compreendo que determinados comportamentos são inerentes a determinadas pessoas que considero privilegiadas, porque são humanas. É o que não se aprende na academia. Essa postura humanística de determinados médicos vem também (mas não só) do primeiro ninho, é quase genético. E graças a Deus o nosso caminho tem sido permeado por médicos desse naipe e por isso digo muito que somos "mal-acostumados". Quando nos despedimos, olhei para o seu jaleco branco e li seu sobrenome. Caiu a ficha "Dr. Rodrigo Luna" . Ele é filho da Célia e do Sr.Luna, donos do Colégio Canarinho onde estudaram Jonas, Mila e Mari.
Dr Rodrigo, obrigada, o senhor deve ser dessa escola diferente, que olha o rosto do paciente que se preocupa de saber seu nome, de respeitá-lo no seu todo e não só de examinar as peças doentes. Deus o abençoe e lhe dê paciência para olhar assim a todas pessoas que necessitam do seu diagnóstico, do seu olhar compreensivo, mesmo que seja às 22h30 de um dia cansativo de trabalho.

terça-feira, junho 27, 2006

Aniversário

O mês de junho chegou apressado com muitos aniversários. Começou com o da Sarinha, minha afilhada, que espalha ternura por onde passa com seu doce sorriso de menina feliz. Depois vem a grande Gadelhinha, muito querida e amada por nós todas. Comemoramos aqui em casa, e ficou muito feliz com a surpresa. A terceira foi minha querida tia Zelinda, seguida da minha Mariana. Não houve comemoração. William foi operado no dia sete e graças a Deus foi tudo muito bem, está ótimo.
Vitor fez sua festa no dia 22, aproveitando o jogo do Brasil com o Japão. O encontro da família na casa da Lourdinha foi maravilhoso, mesmo com a falta que sentimos do José Aragão. Tutti chegou de São Paulo, Santiago está lindo e Mariano curtindo a mil o neto. Pedro Guerra viajou para Cannes foi receber um prêmio, valeu meu primo, vá em frente. A Bel também é afilhada e com a alegria da gravidez comemorou seus 23 aninhos. Davi nasce em agosto. Eveline, a psicóloga, faz parte também desse grupo. Grande Eveline que tanto tem me ajudado a " enxergar" mais e descobrir que as veredas existem para o desvio de algumas estradas tortuosas e complicadas. Domingo foi a vez do Alexandre da Tê , completou um ano, afilhado também. A Tê merece um texto a parte por tudo que representa para nossa família. Foi muito importante todo seu apoio para educar meus filhos e meus netos também. Seus cuidados são amplos e incansáveis. Parabéns para vocês todos, saúde, paz e alegria no coração.
Daqui a pouco, será a minha vez. Meu aniversário é um misto de alegria, de agradecimento a Deus e de muita saudade. Sempre me lembro do primeiro telefonema do dia. "Deus te abençõe minha filha", e depois aquela voz forte parecia engasgar para disfarçar o choro daquele avô tão querido e que é tão importante na minha vida. Obrigada, vovô, por tudo que vivemos juntos. Depois vem a lembrança da minha Estela, que ficava falando o mês inteiro em como seria a comemoração do dia 28. Fiz de você uma estrela e nas noites de insônia te procuro para conversar.
O telefonema dele era cheio de carinho "Parabéns pra tu. Tá mais velha... Tô sentindo teu cheiro.................. Beijo pra tu." Meu tio Firmino querido, que saudade de você.
O compadre Coronel também não esquecia, "Parabéns Ritoca" e com seu jeito sério que encobria uma imensa ternura, me desejava feliz aniversário. Não estou triste, é uma saudade tranqüila, eles levam pedacinhos da gente e deixam conosco pedacinhos de boas lembranças do amor vivido.
Mariana acabou de me entregar o seu presente: dois livros. Um livro do Caio Fernando Abreu - Morangos Mofados.
"À Mãe, as delicadezas do Caio.
À mãe por quem caio de amores,
à Mãe que de amores também cai
pela Mariana.
À mãe, um livro para dividir - porque muito me alegra o fato de dividirmos o gosto pela mesma leitura. Tão bom e tão simples é quando você me diz que gosta de alguma coisa que gosto também".
O outro A Sentinela, da Lia Luft. "Mãe, você, minha sentinela, meu maior dos ganhos. Deus fez de mim feliz com o simples ato de me fazer nascer do "de dentro" de você."
Jonas já ligou ontem e hoje para falar do dia de amanhã. Nossos filhos são presentes de Deus na nossa vida.
Aniversário é vida, é partilha com aqueles que a gente ama e completam a nossa caminhada.

Aniversário

quarta-feira, junho 21, 2006

LALA

Durante anos tentei descobrir o sentimento vivido no tempo que permaneci em Tauá na casa do meu avô. Contradição em permanecer naquela casa sem reclamar se sentia tanta falta de mãe? Quando o vovô se foi é que tive a nítida certeza de que fizera dele meu pai, pai por inteiro.O tempo que vivi por lá foi importantíssimo na minha vida, por todo o amor que dele recebi.Era a segurança da figura paterna.
Naquela pequena cidade tudo era diferente.Me sentia um pouco livre,brincava na praça, passeava de bicicleta na rua, andava descalça, acompanhava as cantorias diárias da De Lourdes que me estimulou o gosto pela boa música. São as lembranças mais fortes da minha infância.
Hoje acordei me lembrando da Lala.Seria o dia do seu aniversário.Não a sentia como avó, mas como uma tia mais velha que as outras tias.Admirava a maneira com se vestia, como se tornava mais bonita quando ia encontrar o vovô na padaria.Administrava a casa com competência . Alguém falou, não me lembro quem, que o vovô tinha tanta luz e era tão amado que ofuscou um pouco a figura dela. Viveu à frente do seu tempo. Bonita, vaidosa, alegre, inteligente, de bem com a vida. Não conheceu estresse.Solidária com os mais pobres, os doentes mentais que viviam nas ruas " os loucos" como eram chamados e as prostitutas. Lembro que aos sabados era dia de feira e elas passeavam nas calçadas de braços dados umas com as outras, arrumadas e muito maquiadas para aquela época. Não conversavam com as pessoas da cidade. Geralmente não entravam nas lojas, não faziam compras naquele dia. As mulheres acreditavam que elas procuravam serem vistas pelos homens. Ficava na padaria do vovô e olhava admirada... na minha compreensão de criança não percebia o sentido daquela palavra, prostituta, mais entendia que não eram iguais a nós.
Lala as vezes era procurada por algumas delas para pedir ajuda,eram recebidas na sala de visita e eu não entendia como aquelas" mulheres proibidas" eram recebidas como as outras visitas. Depois de alguns anos é que entendi as tais desigualdades sociais. As vezes me pergunto será que aprendi com ela o meu interesse em trabalhar com doentes mentais? e minha mãe foi também despertada para depois de tantos anos assumir o dificil trabalho que desenvolveu na zona de prostituição durante tanto tempo? Na decada de 70 mamãe fez parte do NINHO organização francesa que coordenava um trabalho junto " as meninas" como eram chamadas por ela.
Lala é uma doce lembrança na memória daquela criança inquieta em descobrir as histórias dos adultos que a cercavam.

quarta-feira, junho 07, 2006

Travessia

"A minha vinda foi mais do que uma viagem, em 48 horas voei instrospectivamente por lugares que há mais de vinte anos não visitava.Fechei os olhos e um filme passou na minha mente. Conversei com o porteiro e descobri que era o mesmo desde aquela época. Henrique, o porteiro que está há mais de trinta e tres anos fazendo a mesma coisa. Onde estariam todas aquelas milhares de crianças as quais desejou milhões de " bom dia e até amanhã ?" Será que algumas delas tiveram oportunidades como as minhas ?
Hoje caminhei desprenteciosamente pela praia, andei sem rumos por trilhas invisiveis, peguei algumas conchas e mais reflexões vieram a tona...
Me sinto um passaro, uma ave migratória, que antes de alçar vôo para mais uma travessia oceânica, resolve voltar ao ninho e mergulhar na sua essencia, rever toda a sua bagagem, trocando " pertences mentais ", mais sempre mantendo os seus valores.
Durante o vôo as vezes solitário, lembrarei de todos os amigos que deixei para trás, em outras rotas, principalmente daqueles que muitas vezes me emprestaram as suas asas para que pudesse repousar ou mesmo voaram na frente para diminuir a força contrária do vento. Amanhã as seis levantarei voo rumo a uma travessia ainda maior, sempre tendo em mente a fortaleza do ninho no qual nasci e aprendi a voar.
Amo muito todos vocês."
Jonas

domingo, junho 04, 2006

Surpresa

O dia amanhecia e Mila entra no quarto e fala : vamos acordar com aquela musiquinha " Bom dia, bom dia, bom dia! Hoje eu estou tão feliz" essa era a canção que eu cantava algumas vezes para despertá-los quando eram pequeninos. William acordou assustado " o que aconteceu?" perguntei calmamente : por que Mila?
" Temos um presente que chegou na madrugada" E aí começou a nossa alegria e a nossa festa. Jonas nos dera mais um presente. Foi maravilhoso! Esses fins de semana surpresa são únicos. É a quarta vez que temos esta alegria. Na sexta-feira fomos à praia, fizemos as visitas do João Gabriel e do Pedro que nasceram na semana passada, filhos do Geraldinho e da Deusa e do Ricardo e da Mônica, irmãos da Margarete. Saímos a noite e conversamos muito. Os cincos juntos, fazem uma festa. Sabado cedinho, Jonas me convidou para irmos a missa na Igreja de Fátima. Encontramos a Igreja fechada. É uma pena que nossas igrejas necessitem de grades e que não possam permanecer abertas durante o dia , pela violência que nos cerca. Resolvemos tentar entrar pelo Colégio São Tomás de Aquino onde Jonas foi alfabetizado e estudou alguns anos. Encontramos o Henrique que trabalha como porteiro há mais de trinta anos, ficou alegre quando explicamos o porque da nossa visita. Era a primeira vez que Jonas voltava lá. Passeamos pelos corredores e no silêncio do ambiente tentou identificar algumas salas... Lá encontrei um senhor de cabelos brancos,senti que o conhecia, mas não lembrei do seu nome." Como é o seu nome, te conheço." Olhou prá mim surpreso. Tirei os oculos, sorri e ele falou sorrindo; " é a Ritinha" Nos abraçamos com carinho. Era o Jorge.Quando estagiei, como aluna de Serviço Social na comunidade do Alto da Paz, Jorge fazia parte do Conselho do Centro Social. A coordenadora era a Hélvia Benevides a professora mais competente que conheci. Como ele poderia lembrar de mim, se não nos víamos há 37 anos? Fiquei feliz, muito feliz.Administra a cantina do Colégio há 40 anos. Na visita, fomos abordados por um senhor que ao saber do nosso proposito de visitar a Igreja nos convida para entrar na capela do colégio. A capela é pequenina e foi tão acolhedora. Sentamos e rezamos durante um tempo. Agradecendo as graças que nos abençoam. Confesso que vivi um momento de muita emoção. Na volta Jonas comentou as suas experiências e lembranças do tempo vivido no colégio. Visitamos a mamãe, Maninha, Simões, Nildinha. Almoçamos na praia e depois do por de sol, recebemos as visitas do Tuta, Stelinha, Wal e César e do Eden. Terminamos a noite com Rosa e Afonso.Sempre aproveitamos o máximo.Hoje o dia amanhecia e fomos eu e William deixar Joninha no aeroporto ele de baterias carregadas pelo mar, pelo sol, por do sol e pelo carinho recebido. Nós abastecidos de alegria e agradecidos a Deus.