quarta-feira, junho 21, 2006

LALA

Durante anos tentei descobrir o sentimento vivido no tempo que permaneci em Tauá na casa do meu avô. Contradição em permanecer naquela casa sem reclamar se sentia tanta falta de mãe? Quando o vovô se foi é que tive a nítida certeza de que fizera dele meu pai, pai por inteiro.O tempo que vivi por lá foi importantíssimo na minha vida, por todo o amor que dele recebi.Era a segurança da figura paterna.
Naquela pequena cidade tudo era diferente.Me sentia um pouco livre,brincava na praça, passeava de bicicleta na rua, andava descalça, acompanhava as cantorias diárias da De Lourdes que me estimulou o gosto pela boa música. São as lembranças mais fortes da minha infância.
Hoje acordei me lembrando da Lala.Seria o dia do seu aniversário.Não a sentia como avó, mas como uma tia mais velha que as outras tias.Admirava a maneira com se vestia, como se tornava mais bonita quando ia encontrar o vovô na padaria.Administrava a casa com competência . Alguém falou, não me lembro quem, que o vovô tinha tanta luz e era tão amado que ofuscou um pouco a figura dela. Viveu à frente do seu tempo. Bonita, vaidosa, alegre, inteligente, de bem com a vida. Não conheceu estresse.Solidária com os mais pobres, os doentes mentais que viviam nas ruas " os loucos" como eram chamados e as prostitutas. Lembro que aos sabados era dia de feira e elas passeavam nas calçadas de braços dados umas com as outras, arrumadas e muito maquiadas para aquela época. Não conversavam com as pessoas da cidade. Geralmente não entravam nas lojas, não faziam compras naquele dia. As mulheres acreditavam que elas procuravam serem vistas pelos homens. Ficava na padaria do vovô e olhava admirada... na minha compreensão de criança não percebia o sentido daquela palavra, prostituta, mais entendia que não eram iguais a nós.
Lala as vezes era procurada por algumas delas para pedir ajuda,eram recebidas na sala de visita e eu não entendia como aquelas" mulheres proibidas" eram recebidas como as outras visitas. Depois de alguns anos é que entendi as tais desigualdades sociais. As vezes me pergunto será que aprendi com ela o meu interesse em trabalhar com doentes mentais? e minha mãe foi também despertada para depois de tantos anos assumir o dificil trabalho que desenvolveu na zona de prostituição durante tanto tempo? Na decada de 70 mamãe fez parte do NINHO organização francesa que coordenava um trabalho junto " as meninas" como eram chamadas por ela.
Lala é uma doce lembrança na memória daquela criança inquieta em descobrir as histórias dos adultos que a cercavam.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Vovo foi muito bonito o que a senhora escreveu sobre o meu bisavo, assim eu posso saber mais um pouquinho dele que ,por infelizmendo eu nao pude conhecer.
beijos com carinho de seu neto
Pedro

21 junho, 2006 14:18  
Anonymous Anônimo said...

Vovo foi muito bonito o que a senhora escreveu sobre o meu bisavo,assim eu posso conhecer mais um pouquinho dele ,que infelizmente eu nao pude conhecer.
Beijos e carinho do seu neto
Pedro

21 junho, 2006 14:21  
Anonymous Anônimo said...

Pedro meu menino querido,
que bom encontrar você aqui, me sinto a vó mais feliz do mundo. Vocês três me fazem um bem imenso e uma vontade de viver muito, muito, partilhando de todo esse amor que nos cerca. Beijo grande. Estou partida de saudade e contando os dias para receber vocês.
vó Rita

21 junho, 2006 17:35  
Blogger Marcelo Dutra said...

Oi Ritinha
Logo se vê que esse seu coração, essa sua bondade e esse seu jeito de viver a vida são coisas que vêm de longe, herdadas e trabalhadas, esculpidas. O seu passado e antepassados estão sempre presentes em seus textos. Gosto muito disso.
Abraços...Marcelo

21 junho, 2006 18:06  
Anonymous Anônimo said...

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11 agosto, 2006 16:24  

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