sexta-feira, dezembro 16, 2005

Generosidade

A caixa foi entregue na portaria.
Lúcia, que presente é este? Deve ter um cartão dentro.
Abro a caixa com cuidado, uma carta, reconheci a letra da amiga querida, li e tive a sensação de que não merecia aquele presente, não podia ser meu, me pareceu objetos sagrados. Entendi o sentido do presente, no dia anterior, havia me encontrado com ela e uma amiga que estava usando uma pulseira. Comentei: Mirza veja que pulseira bonita.
Segurei cada objeto, um por um, devagarinho, não tive pressa... Sentimentos vários. Liguei para ela, preocupada pensando no que deveria dizer Mirza, esta caixa não pode ser minha, vamos conversar .................. ....................... .............................................................................. .......................... entendi que não deveria insistir.
Este momento foi tão valioso para mim que quis dividir com outras pessoas. Vejam que carta, guardei junto a tantas outras que recebi dela ao longo dos nossos trinta e poucos anos de convivência.

Minha querida Ritinha,
Minha Ritinha
Quisera poder adivinhar seus pensamentos. Iria até ao céu, ao fundo do mar, ao Everest (é assim que se escreve?)
Imagine: não sabia que você gostava de pulseira assim... Há poucos dias dei para uma prima um lindo bracelete trazido da Índia para mim. Deixei de usar colares, brincos, anéis e pulseiras exageradas como usava na minha mocidade. A gente deve se vestir e usar os adereços de acordo com a personalidade, com a idade etc.
Vejo algumas pessoas já sem vivacidade no corpo, sem expressão corporal, com exagero. Os colares parecem pesarem no colo, as pulseiras e anéis não se harmonizam com a voz já tão pausada, andar lento...
Esse seu riso, essa sua alegria, sua juventude eterna, essa sua vibração afetiva, emocional com todas as pessoas, suas coisas bem personalizadas. Você é glamorosa, combinam com você.
A pulseira de pedra, dá para aproveitar. As outras quem sabe poderão ser restauradas. Eu penso assim: Se mandasse essas pulseiras para qualquer pessoa, iria dizer: Mirza mandou-me umas porcarias. Mando-lhe minha história, minha identidade que o tempo devorou. Olhei-me no espelho e compreendi que confiei demais nele. Confiei na realidade do tempo. Mas ele é também construção. Quem forjou essa Mirza velha, senão o tempo? Quem fortaleceu esta fé, esta coragem e este amor, senão o tempo? É um paradoxo: ele nos limita o corpo, mas o espírito fortalece quando temos fé, uma infinita fé em Deus. Só o que nos abastece o espírito é a confiança em Deus, no Espírito Santo. Aprendemos a perder, aceitamos as separações, resistimos às intempéries. Grande exemplo a quem leu o texto da neta do tio Firmino. Depois da missa dei carona à uma amiga dele do Correio. Grande amiga aquela! No percurso até sua casa, com lágrimas recordava a pessoa linda, o grande amigo que foi o tio Firmino. Lembrei-me da querida Ocilma, sozinha sentada no banco do Parque da Paz, chorando a morte do Klebinho. Aproximei-me simultaneamente, chegou um amigo dela para dar-lhe os pêsames. Você é a irmã dele? A Tetê? Chorando inconsolavelmente, trêmula, apontou o dedo: não, a irmã dele é essa aí, eu também sou irmã, ele era mais que um irmão... Digo que eles nunca namoraram, eram como irmãos-amigos. Lindo, não acha?
Voltando às pulseiras, umas são da década de 70, outras da década de 80. A preta, peruana, ganhei nos meus 15 anos de um tio. Acho lindas estas de pedras coloridas, foi um sucesso! Em cada uma um pouco do meu amor por você. E esta minha gratidão eterna. Fico com a minha história que é eterna. Felizes os que têm histórias para contar, principalmente quando tem-se barreiras, doenças, sofrimentos que foram enfrentados e superados com a ajuda de Deus, através dos amigos. Beijos carinhosos da Mirza. Que em matéria de tecnologia parou no tempo. Ando procurando um toca disco de long play. A única coisa que digito são as contas do rosário.




Mirzinha querida,

Você me fez uma surpresa indescritível, li a carta e fiquei indecisa como mexer no seu conteúdo, me pareceu composta por peças sagradas. Sinto que não mereço tanto... colares e pulseiras de marfim, de sementes, de pedras, de pérolas. Sou uma eterna devedora de tanto carinho e ternura que recebemos de você. Mariana ficou deslumbrada “Mãezinha, quero usar tudo, tenho muito cuidado” .
Deus te abençoe e obrigada por tudo.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tia... acho que das lágrimas que brotaram dos meus olhos daria para fazer mais uma pulseira...pedrinhas de sentimento..Que amor lindo..a doação..o aprendizado...o complementar-se...a vida!
Te amo Tia...por me proporcionar ler coisas tão lindas e sentir sensações tão intensas e raras nos dias de hoje!
Beijos em todos da arvore!
Marianinha Fortes

28 dezembro, 2005 11:46  
Anonymous Anônimo said...

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21 julho, 2006 18:18  

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