Meu tio querido,
Já se vão cinco meses que você nos deixou.
Recebi da tia Zelinda uma xerox de um artigo publicado na Revista Brasileira de Filatelia escrito por um amigo seu. Tive dúvidas se publicava no blog, por inteiro ou com alguns cortes, mas ele te conhecia tão bem que resolvi logo. Você era tão simples na sua grandeza, nas suas competências, nos seus sucessos... a saudade é imensa e às vezes me pego com o rosto molhado como hoje. O coração apertado...
Tenho ouvido muitas histórias suas contadas por minha tia Zelinda. O namoro, as viagens, casamento, filhos, pedaços da história de amor de vocês, algumas já minhas conhecidas, outras não. Histórias contadas com aquela voz macia, tranqüila, sem pressa, permeada de quando em vez com lágrimas que quer esconder. Fique tranqüilo, meu tio, por aqui está tudo em paz, e você vai ter mais um bisneto(a). Daniel e a Bel estão grávidos.
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Um Rochedo Dentre Os FortesUm grande amigo me deixou em 6 de setembro de 2005, Francisco Firmino de Araújo. Um nordestino de boa cepa, nascido na Paraíba, na Vila de São Mamede, então Distrito de Santa Luzia, em 16 de março de 1916. Ainda criança adotou a pátria cearense para viver. A filatelia brasileira entristecida perdeu um de seus mais valorosos baluartes e a fortaleza que a personificava. Foi o mês mais trágico de minha vida; óbvios são os motivos.Viver, realmente não é fácil. As pedras no caminho surgem a cada passo e a todo o momento para nos surpreenderem na jornada.
Firmino foi um dos mais importantes filatelistas dessa terra “ brasilis”. Sócio-fundador da Sociedade Filatélica e Numismática Cearense, que presidiu inúmeras vezes, e Vice-Presidente da Federação Brasileira de Filatelia. Colecionador de selos desde os 14 anos, expositor, detentor de 43 medalhas de ouro, e jurado nacional e internacional, por mais de vinte anos, Jornalista Filatélico por mais de trinta anos, via no expositor brasileiro o caminho da pujança de nossa filatelia. Sua força de argumentação em favor do filatelista era indubitavelmente impressionante. Defendia-os com vigor e invariavelmente vencia as batalhas argumentativas. Era um poderoso causídico da filatelia brasileira pura, autentica, séria e democrática. Pregava ele: “ A filatelia para os filatelistas “.
Em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à comunidade filatélica brasileira, por mais de cinco décadas, a Câmara Brasileira de Filatelia outorgou-lhe o título de mérito “ Patrimônio da Filatelia Brasileira” versão 2004. As loas e distinção que lhe foram prestadas fora apenas a legitimação de sua dedicação e inestimável contribuição para a promoção e o desenvolvimento de nossa filatelia.
Apesar de preso à cama por doença incurável nunca deixou de telefonar semanalmente para a Comissão Organizadora da Vila Rica 2005 cobrando definições trazendo seu incentivo e aconselhamento para aquela realização. Foi o colaborador da participação significativa dos expositores cearenses no evento e teve a satisfação plena de vê-la realizada e seus resultados.
Objetivo alcançado, já partia em busca de outro. Não conjugava o verbo descansar aproveitando todos os minutos para estar fazendo algo de bom para a filatelista. Poucos dias antes de falecer me telefona para saber da FEFIBRA. De como estávamos em relação ao trabalho político interno. Fez elogios rasgados à revista A Filatelia Brasileira. Voltara a afirmar que nunca vira um Estatuto tão democrático e que notara não haver apego algum dos diretores da FEFIBRA pelo poder, pois o volume de votos dos associados existentes demonstrava cabalmente não poder haver manipulação eleitoral. Era um entusiasta pela causa da FEFIBRA, apesar de ter amigos do outro lado.
Seu credo filatélico era sua profissão de fé. E o declamava com energia e persuasão. Em razão disso, cedo se tornara um homem polemico. Seus inúmeros artigos filatélicos publicados aqui e alhures eram o rosto de sua doutrina. Seu dizer era na “ lata”, de frente e sem subterfúgios. Por toda a sua vida foi uma fortaleza de convicções. No outro vértice era um ser extremamente alegre e carinhoso; tinha sempre uma palavra meiga e gentil a proferir. Cuidadoso, sempre a perguntar pelo bem estar dos amigos e parentes. De riso franco, era um grande contador de piadas a divertir tanto quantos dele se acercavam.
Victor Hugo, ao discursar no sepultamento de Balzac, disse que o homem em vida constrói seu pedestal. A posteridade é que lhe ergue a eatatua. Assim é que do alto das Gerais tenho a honra de conceder-lhe o merecido titulo de gloria: Dom Firmino, o Rijo.
Querido e inesquecível amigo, abalado, choro tua partida, como pago de minhas penas, como se deve chorar a perda do pai, pois eras como se fosse,
Paulo Comelli
Revista A FILATELIA BRASILEIRA
04 dezembro de 2005