Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor "
O ano era de 1966, e o festival era o segundo da Record. Ela, porém, contava com poucos meses e não compreendia muito bem porque todos falavam de uma maneira estranha. O diretor achou o tempo curto demais para Nara entrar sozinha. Ela, de seu modo, via o mundo como uma grande brincadeira, como se não tivesse pressa de descobrir o que seria cantado um ano depois em forma de roda viva. Ele pediu então para que Chico entrasse antes com o violão e desse uma prévia do que seria a banda. Um dia, no auge dos seus seis meses, após ser incompreendida por um pedido mal interpretado, externou um choro há muito contido. A platéia veio abaixo: meninas, jovens e senhoras - todas muito bem vestidas - aplaudiram com o coração a música que falava de coisas comezinhas de amor, de um Brasil que se despedia de sua inocência. Imediatamente, para acalmá-la, ela recebeu o mesmo presente; coincidência ou não, era a primeira música do disco: aquela melodia lhe pareceu doce e ela logo tratou de erguer o braço e disse : " vamos dançar, vovô!" O tempo antecipou o que aconteceria dois anos depois, no confronto entre sabiá e as flores não faladas: " a banda " ganhou " disparada ", estamparam os jornais da época. E é sempre assim: mesmo hoje, na sua idade avançada de quase dois anos, a qualquer referência à marcha alegre que se espalhou na avenida e insistiu, ela pede do seu jeito: " a banda, a banda!"
Chico, desde então, perdeu o sossego e ganhou o mundo. Mariana agradeceu e me ensinava assim que a banda ainda não passou. Entre um ponto e outro, já lá se vão quase quarenta anos.
Henrique Marques Mendes
Henrique faz parte da galera que vibra com o bom gosto da pequena Mari na preferencia musical,
com seis meses escolheu A banda do Chico a sua música predileta. Quando ouve os primeiros sons da Banda, levanta o braço , é o sinal, começa a dançar.