domingo, setembro 17, 2006

Lembranças

O pássaro era um galo campina, que algumas pessoas chamam de "Cabeça Vermelha". Viera lá das bandas do Sertão dos Inhamuns. Presente da avó amiga e dedicada ao primeiro neto.

O pessoal da casa vibrou em solidariedade à alegria do pequenino, e eu, como mãe da saltitande e alegre criança, passei a cuidar do pássaro, que nos acordava a cada manhã com seu bonito canto, nos encorajando para enfrentar um novo dia de trabalho.

Passaram-se meses e o menino inquieto em descobrir as coisas da vida, insistia que lhe entregassem a gaiola, queria ver de pertinho, como dizia. Colocava seus dedinhos entre os arames querendo segurar o pássaro e senti-lo seu.

Um dia, ao voltar do trabalho, encontrei a gaiola vazia. Perguntei o que havia acontecido e ninguém respondia. Perguntei então ao meu filho, que com seu jeito angelical me respondeu: "Mãe, mandei ir embola, ele disse que já estava tliste de tar pleso."

Não comentei, não reclamei, mais senti falta e por vários dias olhando a gaiola vazia imaginava o pássaro solto e alegre nos galhos de uma árvore florida, dividindo seu canto com a natureza.