quarta-feira, setembro 06, 2006

Nosso peixinho

Raquel Chaves


06/09/2006 03:23 - No Jornal O Povo


O Ricardo era da Gabi, do Té, do Carlão, do Dráulio. E era o menino da Marreca e do Flavinho, respectivamente a "mãe perfeita" e o "paizão". Palavras dele. Só que o "Cadão" também era de todos nós. Falando de forma simples, como ele costumava ser, era "dado". Doava-se a gente e bicho, a beijos e abraços. E havia quem reclamasse? Entregava o sorrisão moreno e largo sem pedir nada em troca.

"Ele está vivo. Ele é quase um peixe" - foi o que ouvi e no que acreditei enquanto se procurava por ele. Cadão era um peixinho desde os tempos dos açudes de Juatama, pelas bandas de Quixadá. Corria e nadava solto, frouxo, mágico. Do tempo em que enchia a gente de massagens em troca de um simples real. Se a moeda não viesse, pendurava-se a conta, pagava-se com beijinhos e carinhos sem ter fim. Ele cresceu ao tempo em que eternizou a doçura.

A uma semana de seu mergulho eterno, nosso peixinho escreveu que respirava melhor embaixo d´água e fez sua última declaração ao fundo do mar. Para ele, 20 metros oceano abaixo era algo como a própria casa. Era lá que ele observava a natureza que amava e os seus habitantes, que deveriam pensar: "Que bicho estranho é esse com essas nadadeiras gigantes?!?". Assim Cadão também escreveu, antes de mergulhar pela última vez, dessa vez, sem suas nadadeiras mágicas.

RAQUEL CHAVES é repórter do Núcleo de Cotidiano

(Estou sem condições de escrever, mas esta crônica diz muito do Ricardo]

1 Comments:

Blogger Marcelo Dutra said...

Oi Ritinha
Passei um tempinho afastado mas tô aqui de volta. Li seus textos anteriores e cada vez mais me surpreende sua facilidade e sensibilidade ao escrever. É realmente um bálsamo, um mimo, ler o que você escreve.
Parabéns e continue assim.
Abraços...Marcelo

08 setembro, 2006 20:02  

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