quinta-feira, setembro 14, 2006

"Mãe ,onde está minha medalha?"
"Mãe, onde está minha caneta?"
Respondia com tranquilidade:No bolso do paletó do seu pai, minha filha.
Pequenina me acostumei a conviver com aqueles paletós pendurados no guarda-roupa.
Eles me transmitiam sentimentos vários: respeito, amor, cuidado.Na minha imaginação aqueles paletós guardavam segredos, tesouros. Já era natural encontrar as coisas nos bolsos do meu pai. Não entendia que aquele ritual me fortalecia sentimento de segurança diante da ausência dele. Era como um alívio, era uma certeza, meu pai vivera ali, sua presença não era física, mas tinha um sentimento concreto de que ele ainda nos pertencia. Seus livros, o material de desenho, canetas, retratos. A convivência com seus objetos sem a sensação de tristeza. Depois de alguns anos, os paletós já não estavam mais no guarda-roupa, minha mãe achou que já tinham cumprido a sua missão. Esse gesto materno vindo de uma mulher com apenas 25 anos, sem nenhum conhecimento de psicologia, brotava do seu interior com uma sensibilidade perceptiva, que foi muito importante para mim. Mulher guerreira em todos os sentidos, viveu sempre adiante do seu tempo, já escrevi muito sobre ela. Quando meu pai se foi, eu tinha apenas seis meses, mas sempre me senti como se tivesse convivido com ele. Sei toda a sua história, extremamente solidário, inteligente, alegre,inquieto, curioso, amante da leitura. Tenho alguns textos escritos por ele, era fotógrafo amador talentoso, trabalhava incessantemente pelo desenvolvimento de sua pequena cidade, promovia festas, coordenava um Centro Literário. Seu coração imenso estava sempre disponível para ajudar a quem dele precisasse. Naturalmente que tinha defeitos, mas suas virtudes eram tantas... Não ouvi suas histórias só de pessoas que o queriam bem. Viveu intensamente seus vinte e sete anos. Durante muitos anos, sempre que ia para as férias em Tauá, recebia muitas visitas de pessoas que o amavam muito. Cada um falava de sua história e da importância de meu pai para elas. Abraçavam-me como se aquele gesto carinhoso pudesse aliviá-los de uma saudade que ainda carregavam no coração.

2 Comments:

Blogger Marcelo Dutra said...

Oi Ritinha
Tô gostando de sua produção literária. Posts quase diários, sem perder nem um tiquinho a qualidade. Muito bom. Assim breve teremos um livro da Ritinha, que seria um delicioso presente para todos nós.
Abraços...Marcelo

15 setembro, 2006 14:43  
Blogger Marcelo Dutra said...

Oi Ritinha
Eu adoraria receber as fotos. Meu e-mail é:
mfmdutra@gmail.com
Vamos incrementar o blog de fotos!!
Abraços...Marcelo

16 setembro, 2006 22:35  

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