domingo, dezembro 09, 2007

Nunca Acreditei Em Papai Noel

"Nenhum de meus irmão acreditava. Mamãe e papai se recusaram a nos deixar acreditar. Eles não tinham condições de comprar presentes caros e não queriam que nós pensássemos que não éramos tão bons como todas as outras crianças que, na manhã de Natal, encontravam todo tipo de brinquedos bacanas debaixo da árvore, que eram, supostamente, deixados lá pelo Papai Noel. Então, eles nos contaram que as crianças eram enganadas pelos pais, que os brinquedos que os adultos diziam serem feitos por duendes que usavam chapeuzinhos com guizos em um ateliê no pólo Norte tinham, na verdade, etiquetas onde estava escrito "Made in Japan"
- Tentem não desprezar essas outras crianças - dizia mamãe.
- Não é culpa delas se elas sofreram uma lavagem cerebral pra acreditar nesses mitos bobos.
Comemorávamos o Natal, mas, geralmente, uma semana depois de 25 de dezembro, quando se encontravam laços de fita e papel de embrulho em perfeito estado que as pessoas tinham jogado fora, e árvores de Natal largadas ao longo dos acostamentos das estradas que ainda tinham a maior parte das folhas e, algumas, até enfeites prateados agarrados aos galhos. Mamãe e papai davam de presente um saquinho de bola de gude, ou uma boneca, ou um estilingüe, que tinham encontrado na liquidação de Natal.
Naquele ano, papai perdeu o emprego na mina de gesso depois de brigar com um chefe, e, quando chegou o Natal, nós não tínhamos nem um centavo. Na véspera de Natal, papai nos levou para passear de noite no deserto, um de cada vez. Eu estava enrolada em um cobertor e, na minha vez, eu quis dividi-lo com o papai, mas ele disse "não, obrigado". O frio nunca o incomodava. Eu tinha feito cinco anos, e sentei do lado dele, e nós olhamos para cima, para o céu. Papai adorava falar sobre as estrelas. Ele explicava como elas orbitavam pelo céu noturno enquanto a Terra girava. Ele nos ensinou como identificar as constelações e navegar pela estrela polar. Aquelas estrelas brilhantes, ele insistia sempre, eram uma das melhores coisas que existiam para gente como nós, que vivia na natureza. Os caras ricos da cidade, dizia, moravam em apartamentos chiques, mas o ar deles era tão poluído que eles nem conseguiam ver as estrelas. A gente teria que estar completamente maluco para querer trocar de lugar com eles.
- Escolhe a tua estrela favorita - disse ele naquela noite. Ele disse que eu podia ficar com ela para mim. Ele disse que era o meu presente de Natal.
-Você não pode me dar uma estrela! - falei - Ninguém é dono de uma estrela.
- É isso aí - disse ele. - Nenhuma outra pessoa tem uma estrela. Basta você declarar que tem antes dos outros, que nem aquele carcamano do Cristóvão Colombo, que declarou que a América era da rainha Isabel. Declarar que uma estrela é tua tem a mesma lógica.
Pensei bem e cheguei à conclusão de que papai estava certo.
Ele sempre descobria umas coisas assim.
Eu podia ter qualquer estrela que quisesse, disse, menos Betelgeuse e Rigel, porque a Lori e o Brian já tinham declarado que elas eram deles.
Levantei os olhos, olhei as estrelas e tentei decidir qual era a melhor de todas. Dava para ver centenas, talvez milhares ou, até, milhões, brilhando no céu claro do deserto. Quanto mais tempo você olhava, mais os olhos se acostumavam ao escuro, mais estrelas você enxergava, camada por camada tornando-se visível. Havia uma em particular, a oeste, sobre as montanhas, mais baixas no céu, que brilhava com mais força do que todas as outras.
- Quero aquela - falei.
Papai sorriu.
- Aquela é Vênus - disse ele. - Vênus é apenas um planeta bem chinfrim se comparado às estrelas de verdade. Ele parece maior e mais brilhante porque está muito mais perto do que as estrelas. O pobrezinho de Vênus nem produz sua própria luz. É iluminado, não luminoso, só brilha porque reflete a luz. - Ele me explicou que os planetas brilhavam porque a luz refletida era constante, e que as estrelas brilhavam porque a sua luz pulsava.
- Gosto dele mesmo assim - falei. Eu já admirava Vênus, mesmo antes daquele Natal. Dava para vê-lo já nas horas iniciais da noite, cintilando no horizonte, a oeste. E, se você levantasse cedo, ainda podia vê-lo de manhã, depois que todas as estrelas já tinham desaparecido.
- Ora bolas - disse papai. - É Natal. Você pode ter um planeta se quiser.
E ele me deu Vênus.
Naquela noite, durante o jantar, conversamos sobre o espaço sideral. Papai explicou o que eram anos-luz, buracos negros e quasares, e falou das qualidades especiais de Betelgeuse, Rigel e Vênus.
Betelgeuse era uma estrela vermelha, no ombro da constelação de Orion. Era uma das maiores estrelas que se podiam ver no céu, centenas de vezes maior do que o Sol. Ela tinha ardido com um brilho intenso durante milhões de anos, e logo se tornaria uma supernova e se apagaria. Fiquei triste porque a Lori tinha escolhido uma estrela toda ferrada, mas papai explicou que "logo" queria dizer centenas de milhares de anos, em se tratando de estrelas.
Rigel era uma estrela azul, menor que Betelgeuse, prosseguiu papai, mas ainda mais brilhante. Também ficava em Orion- estava no seu pé esquerdo, o que parecia apropriado, porque o Brian corria super rápido.
Vênus não tinha luas nem satélites, nem sequer um campo magnético, mas ele tinha uma atmosfera meio que parecida com a da Terra, só que era extremamente quente - uns 260 C ou mais.
- Por isso, quando o Sol começar a se apagar e a Terra congelar, todo mundo daqui vai querer mudar para Vênus, para ficar no quentinho. E eles vão ter que pedir permissão para os seus descendentes primeiro - alegou papai.
Rimos de todas as crianças que acreditavam na lenda do Papai Noel, e só ganhavam um monte de brinquedos baratos - e de plástico- de presente.
- Daqui a muitos anos, quando a porcariada que eles ganharam estiver quebrada e a tiverem esquecido toda - disse ele - vocês ainda terão as suas estrelas."


O CASTELO DE VIDRO
Jeannette Walls


Recebi este conto em um encarte da revista Piauí. Gostei muito porque me fez lembar de tantos momentos lindos que vivi em tempos natalinos.
O primeiro Natal que guardo na memória foi vivido em Tauá. Devia ter uns cinco anos e mamãe nos levou a uma exposição de presentes em uma casa que não sei identificar de quem, não era de pessoa da nossa família. E os nossos presentes colocados embaixo da cama no outro dia, eram alguns daqueles que Papai Noel havia mandado para aquela casa bonita. Nunca esqueci de um trenó com Papai Noel, cheio de chocolates que vi na exposição. Logo cedo, descobri que Papai Noel era apenas uma lenda.
Em Fortaleza, mamãe sempre preparava a festa. Árvore, presentes, rezas, ceia, músicas natalinas. Depois de alguns anos o Natal da família passou a ser comemorado na casa da minha tia Iracema e do tio Coronel , era uma festa maravilhosa. Primos, amigos, namorados e namoradas. Era uma "casa Mãe".
Começei a namorar o William logo depois que conheci a família Benevides Campos. E as comemorações do Natal foram sendo acrescentadas. A festa lá era antes do dia de Natal, com música ao vivo, dança, com o Carlinhos vestido de Papai Noel e demorava um dia que entrava pela noite. Era a festa do ano mais importante da querida Estela. Em dezembro de 2001,fiz dela uma estrela, que nas noites de saudade, vejo no lado esquerdo da varanda.
Depois que as crianças nasceram, o Natal foi acrescentado de cores diferentes. A festa se tornou mais linda e alegre. Resolvemos que Jonas seria informado de que Papai Noel era uma historinha e que o Papai Noel de verdade eramos nós. Era uma mentira a menos. Ele gostava muito da festa e queria passear todas as noites para admirar "as luizinhas" como chamava. Mila também participou dessa história, e eles achavam o máximo saberem da verdade que os amigos não sabiam. Quando Mariana nasceu, me pediram para não contar a historinha pra ela, que a deixasse descobrir. Era comprida a noite e sempre começava pela visita do tio Firmino e da tia Zelinda. Meu tio Firmino não gostava da noite de Natal, devia ter suas razões, achava uma data triste, e sempre falava que depois da ida da minha tia Iracema, o Natal tinha se tornado mais triste para ele. A segunda visita era na casa da vovó Eurice e do vovô Guilherme, onde as crianças vibravam com os presentes da Lilice, e lá se ia todo o décimo terceiro da vovó. A partir de 1973, o almoço do dia 25 era na casa do tio José Aragão, foram mais de trinta anos. Depois que chegaram os netos, e Jonas e Loura foram morar fora, resolvemos ficar em casa na noite do Natal. Quando está findando novembro a casa já está enfeitada, as " luizinhas " acendendo na varanda e os presentes na árvore de Natal. Pedro e Matheus quando eram menores, sempre queriam descobrir os seus presentes pelo tamanho. Continuei fazendo todas as visitas, e sempre recebia o protesto do Coronel, que nunca se conformou, mas a família ia crescendo...
Hoje já não temos mais ao nosso lado a tia Iracema, o Tio Coronel, a vó Stela, Tio Zé Aragão, a vó Eurice , o vô Guilherme e o tio Firmino. E os nossos Natais nunca serão iguais. Mas as lembranças são tantas e tão alegres e tão cheias de carinho e tão repletas de amor, que a saudade é tranqüila, e existe uma gratidão tão grande por tudo que vivemos com eles, que será eterna.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Minha tia amada,
Eu tenho uma lembranca bem nitida do vovo jogando bombom pra gente numa noite de Natal, acho que era na Querencia. Mesmo nao gostando, ele nao deixava de nos fazer agrados. Sao essas memorias que a gente carrega pro resto da vida que fazem a gente seguir, apesar da saudade daqueles que jah nao estao conosco.
Um beijo bem grande da,
Mari

09 dezembro, 2007 19:34  
Anonymous Anônimo said...

Ritinha querida
é por isso q seu ceu é tao estrelado. todo salpicado de luz e amor.
te amo. bjo
La Dutra

17 dezembro, 2007 03:40  

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