Ainda era madrugada. Acordei. O sono foi embora e fiquei tentando avaliar o que vivi nestes sessenta e cinco anos. Nasci no dia vinte e sete de junho,mas só com onze anos descobri quando tive acesso ao meu registro de nascimento. Mamãe sempre afirmava que tinha havido um engano e realmente eu teria nascido no dia do aniversário do meu pai, dia vinte e oito. Ele se foi com vinte e sete anos, quando eu tinha seis meses e o dia vinte e oito sempre foi um dia triste para mim. As minhas lembranças de criança pequena, eram sempre de acordar e encontrar minha mãe chorando de saudades daquele que foi seu primeiro e único amor . Depois de adulta, tentei assumir o dia vinte e sete, mas não consegui, o dia vinte e oito já estava incorporado definitivamente. Não costumo fazer festas no meu aniversário, mas curto muito participar dos aniversários das pessoas que quero bem. Minhas amigas sempre comemoram o meu aniversário, a turma da Gercelina e a turma do consórcio.
Sessenta e cinco anos bem vividos. Tenho muito mais a agradecer do que a lamentar. Aprendi muito nessa caminhada. Perdas de pessoas queridas, muito amadas e que serão eternamente lembradas. Na medida do possível, consigo viver de acordo com o que penso e acredito.Não faço coisas forçadas e falsas e foi um aprendizado muito difícil e muitas vezes até doloroso quando tinha que dizer um NÃO e contrariar algumas pessoas. Vivo constantemente buscando viver em paz. Isso tem me custado, não é fácil. Quando a idade vai passando, e como é rápido... a gente vai ficando mais seletiva, mais paciente com poucas coisas e muito impaciente e intolerante com as coisas as quais não nos fazem bem. Não tive crise de 30 , de 40, de 50, mas os sessenta me trouxeram algumas " angustias ", nada relacionadas com o físico. O cabelo já não é tão farto? a pele já incorporou muitas rugas? os músculos já não estão tão rígidos? Meu sono já não é o mesmo? A pressão arterial há muito que necessita de remédios. Nada disso me incomoda. Me olho no espelho e está tudo bem, estou satisfeita. O problema é a percepção de que ainda tenho muita, muita, coisa para fazer, e aí?o tempo é rápido demais e tenho a sensação de dúvida
de medo e até de saudade.E aí que mora a crise. Tenho procurado trabalhar esse problema, e já faço terapia há quatro anos. Tem sido um presente que me dou a cada semana, e que tem me feito muito bem. Na caminhada encontrei algumas pessoas especiais com quem convivo a muitos e muitos anos e que se tornaram pessoas da minha família, sou muito grata a Deus por esses presentes preciosos .
A programação estava definida, almoçaríamos juntos e a tardinha íamos apanhar Pedro e Matheus no aeroporto. Quando chegamos no restaurante, fiquei olhando o mar e me lamentei interiormente." Meu Deus como seria bom, se estivéssemos todos juntos". Depois de algum tempo, vejo a Mariana caçula vindo na minha direção. Foi uma sensação indescritível, olhava, mas não acreditava, fiquei muda, logo vieram Pedro e Matheus, depois Jonas e Loura. Jonas é mestre em fazer essas surpresas e nunca descubro.Foi uma alegria especial, há muito tempo não passávamos esta data juntos. William também não sabia da surpresa e ficou muito emocionado, chorei de alegria. Haviam chegado na madrugada e foram dormir na casa da Elvira. Foi um alvoroço, tantos beijos e abraços distribuídos uns com os outros. Lucas agarrava a Mariana como se falasse da sua saudade. Foi lindo, lindo e vivemos momentos de imensa felicidade. As conversas entraram pela noite e descobriram a festa que estava sendo programada e que foi desmarcada depois que a mamãe teve um problema de saúde. Acho que essa surpresa foi um dos melhores presentes que ganhei nessa vida. Meus filhos , minha nora, genros e netos me dão a cada dia a sensação dessa felicidade interior, presente de Deus. Que sessenta e cinco anos bem comemorados!!!!