segunda-feira, maio 26, 2008

Socorrinha e Elvis

Socorrinha é filha da De Lourdes e Elvis é seu marido. Residem em Blumenau, saiu do Ceará com seis anos e agora resolveu voltar para encontrar suas raízes. Tem quatro filhos e tres netos. A sua caçula se chama Mariana.Cinco anos se passaram que escrevi este post e agora sua mãe já virou uma estrela. Estamos felizes em hospedá-los, tenho uma dívida de gratidão imensa com sua mãe, quando eu era criança e morei um tempo em Tauá ela foi muito dedicada comigo. Com ela aprendi muitas coisas que estão guardadas nas lembranças da menina.
Engraçado que quando chegou, parecia que sempre convivemos juntas, ela pergunta por todos e demonstra vontade de encontrar a família toda. E muito comunicativa, inteligente, tem alguns traços da mãe. Elvis é calado e fica pacientemente ouvindo as nossas conversas.
Quarta-feira foram visitar as tias em Teresina. As tias de Tauá também estão esperando por eles, vamos ver como será a distribuição do tempo.
E incrível como fala do vovô, lembra de muitas coisas que viveu por lá, é bom demais relembrar esses momentos. Vou marcar um encontro aqui em casa e convidar algumas primas. Certamente De Lourdes está feliz por sua filha ter voltado a terra onde nasceu, ela não pode realizar esse sonho, marcou muitas vezes mas não deu certo.





>



>

sexta-feira, 9 de maio de 2003
Hoje vou falar de De Lourdes. Ela era alta, magra, elegante, olhos pretos, lábios grossos e muito bem delineados, cabelos crespos. Não sei quanto tempo trabalhou na casa do meu avô, era considerada por todos uma exímia cozinheira, mas, nas minhas lembranças ela era mesmo uma exímia cantora. Sua voz era afinada, doce e sempre despertava a atenção da menina de sete anos que, com ela, começou a aprender a gostar de boa música. Sempre estava cantando enquanto trabalhava, e eu ficava sentadinha, ouvindo com atenção as suas interpretações... Parece-me que os adultos daquele casarão não me prestavam muita atenção, com exceção dos horários da escola, alimentação, roupas, banho... Com ela,aprendi a gostar do Noel, Francisco Alves, Lupicínio Rodrigues e tantos outros. Quando as madrugadas eram frias, era na rede dela que eu me acolhia. Quando fazia os doces de leite naqueles tachos de ágata vermelho, era minha a preferência para raspar a panela de doce ainda quentinho e nunca se aborreceu com a menina inquieta, que queria a todo custo aprender todas as letras cantadas por ela.
Quando eu já era adolescente, veio morar conosco em Fortaleza durante algum tempo, depois mudou-se para Brasília e, em seguida, Blumenau, onde mora com filhos e netos. Penso que já deve ter seus setenta e alguns anos, mas segundo sua filha, ainda continua cantando e certamente afugentando com seu canto os dias frios daquela bonita cidade.
No ano passado mandei para ela o livro "Nós, os estudantes", de Mariano, e me senti feliz quando ela, ao agradecer, assim falou Ele é o primeiro escritor da minha família. Ele também aprendeu com ela e ainda hoje, quando estamos juntos que toca alguma música que nos faz lembrar aquele tempo, Mariano solta aquela gargalhada que só ele sabe dar.
De Lourdes, você é uma das muitas lembranças que guardo com cuidado na minha caixinha de saudades.