sábado, abril 22, 2006

Para quem é pai/mãe e para aqueles que o serão...
Texto de Affonso Romano de Sant'Anna

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus
próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como
árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença à vida.
Crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada
arrogância.Ma! s não crescem todos os dias de igual maneira. Crescem de repente.

Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal
maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela
criatura. Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não
percebeu? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de
aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do Maternal?
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e
desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca,
esperando que ela não apenas cresça, mas apareça! Ali estão muitos
pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e
cabelos longos,soltos. Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas,
lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração: incômodas
mochilas da moda nos ombros.Ali estamos, com os cabelos
esbranquiçados. Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar,
apesar dos golpe! s dos ventos, das colheitas,das notícias, e da ditadura
das horas. E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo
com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos
que não repitam.

Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios
filhos. Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas.
Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas.
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir sua alma
respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os
adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, pôsteres,
agendas coloridas e discos ensurdecedores. Não os levamos
suficientemente ao Playcenter, ao Shopping, não lhes demos suficientes
hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas
que gostaríamos de ter comprado. Eles cres! ceram sem que esgotássemos
neles todo o nosso afeto.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos,
bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amiguinhos.

Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os
pedidos de chicletes e cantorias sem fim. Depois chegou o tempo em que
viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era
impossível deixar a turma e os primeiros namorados.

Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre
desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "pestes".
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando
muito (nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar)
para que eles acertem nas escolhas em busca de felicidade.
E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a
hora do carinho ocio! so e estocado, não exercido nos próprios filhos
e que não pode morrer conosco. Por isso os avós são tão desmesurados
e distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última
oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso é necessário fazer
alguma coisa a mais, antes que eles cresçam.

Aprendemos a ser filhos depois que somos pais. Só aprendemos a ser
pais depois que somos avós..."

9 Comments:

Blogger Marcelo Dutra said...

Oi Ritinha
Que bom que tenha retornado! E retornou com a mesma sensibilidade de sempre, com este texto maravilhoso. Sim, é tudo verdade. Nada mais a acrescentar.
Não passe mais tanto tempo longe. Sentimos sua falta!
Abraços...Marcelo

22 abril, 2006 16:33  
Anonymous Anônimo said...

Oi Ritinha,
Pois eh, e o filho hoje parou para ler todo o Blogger da MAE. Filho coruja...
Textos maravilhosos.
Te amo.
Jonas

22 abril, 2006 17:15  
Anonymous Anônimo said...

de fato.

23 abril, 2006 08:32  
Anonymous Anônimo said...

Há alguns anos li esse texto, minhas filhas estavam na fase em que ainda não me sentia órfão, hj já encontro-me só, e já orfão.É um texto que retrata a trajetória desse processo real da vida e dessa relação de pais e filhos. O dificil é se preparar para essa partilha e orfandade.
Obrigado por me proporcionar esse reencontro com esse texto.
Um beijo
Walhirtes

28 abril, 2006 14:44  
Anonymous Anônimo said...

pois é ritinha
tb como a wal, eu conhecia esse texto mas le-lo hj teve outro significado, pq as palavras deixam de ser uma abstraçào, um por vir , e sao realidade pura. e a sensaçào que tenho é q de fato eles cresceram de repente demais,( e de repente pode ser de menos ???), nao me deram um tempo... e agora sinto-me assim, orfã, alias, sinto-me mesmo é no exilio.
cordao umbilical cortado. ficou em mim, o sangue que nao estanca e a dor, que sei que vai passar. preciso de um tempo. pra me acostumar com a ideia, pra aprender esse capítulo novo. vou conseguir , eu sei, mas nao posso negar q é dolorido. bjo querida marcia

02 maio, 2006 05:06  
Anonymous Anônimo said...

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21 julho, 2006 18:18  
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