quarta-feira, setembro 09, 2009

BERGSON

quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

" PORTA AVIÕES ATRACA AMANHÃ EM FORTALEZA "
Esta notícia no Diário do Nordeste de ontem me trouxe uma profunda saudade do
Bergson Gurjão Farias. Há pouco me sentei no parapeito da varanda, noite fria e
silenciosa, e enrolada na minha saudade lembrei do dia em que Bergson nos levou
para conhecer o Porta-Aviões Minas Gerais. Ficamos três horas numa fila, no Porto
do Mucuripe, mas fez questão de esperar: Rosa, Tânia sua irmã querida e eu. Não
sei precisar em que ano isso aconteceu.
Nossa amizade era fraterna, convivemos anos e anos, compartilhávamos muitas
coisas, passeios, reuniões, madrugadas e confissões. Dividíamos nossas dúvidas
amorosas, profissionais, filosóficas e existencias. Certezas e incertezas. Lembrei-me
de tanta coisa boa que vivemos, quando me encontrava preocupada com alguma coisa, ele cantava " A Rita levou meu sorriso " e terminávamos achando
graça e as preocupações iam para o brejo. Sempre que chegava lá em casa,
já entrava cantando músicas do Noel. Tinha mania por esta letra, que falava de uma
saudade que talvez não tivesse experimentado: " Não te vejo, nem te escuto,
o meu samba está de luto."
Sonhávamos com um Mundo Novo- diferente- e este sonho intenso é que o levou
para a Guerrilha do Araguaia. A última vez que nos encontramos foi em janeiro de
1969. Fazia um mês que me casara, tínhamos uma brincadeira, um acerto de que
seríamos compadres, um seria padrinho, madrinha do filho do outro.
Era madrugada, ouvi uma voz batendo devagarinho na janela do quarto " Rita, Rita !"
Pulei da cama assustada, " é sonho ?" Quando o William abriu a porta, foi uma emoção
diferente, de alegria, de saudade e de medo.
Conversamos até o amanhecer, estava acompanhado do Walmick e deixou conosco
umas coisas para guardar, e o compromisso de um segredo, ninguém poderia saber
daquele encontro. Falava com entusiasmo de tudo o que estava vivendo. Acreditava
que realmente estava lutando por um mundo novo. " Vai dar certo, vai dar certo "
Foi a última vez que veio a Fortaleza.
É, meu amigo querido, não deu certo para você, os monstros lhe mataram, mas não
foi em vão... Você não teve tempo, mas cumpri minha promessa. Jonas nasceu em abril de
1970 e o Junior, seu irmão estava no batizado representando você como padrinho.
Aqui em casa tem alguns objetos seus: retratos, bilhetes, uma camisa verde, era verde sim,
mas está desbotadinha , e uma vez ou outra coloco para lavar. Há pouco tempo, mamãe
me entregou seu terço, para dar ao Jonas. Pode ser que ainda tenha um Museu com um espaço para você e aí vou deixar lá todas as suas coisas, no acervo que contará a sua História.
A História de um jovem corajoso que largou tudo, uma família que você amava intensamente
e tantas oportunidades para uma vida calma e tranquila, na luta por Ideal em que acretitava.
E foi então sacrificado, nos seus vinte e poucos anos.


este texto faz parte do documento que entreguei a Luiza e a Tania, mãe e irmã do Bergson.
esperei durante anos, para viver este momento. chegou a hora. Bergson será sepultado em
Fortaleza no dia 6 de outubro próximo.

3 Comments:

Blogger mm said...

minha tia amada,
que homenagem mais linda!
um beijo bem grande,
mari

09 setembro, 2009 15:23  
Anonymous Anônimo said...

mari querida,
quando você chegar vou te mostrar, fiquei com uma cópia de tudo.
te amo muito
beijão

10 setembro, 2009 13:07  
Blogger accosta said...

Obrigado, Ritinha, por essa memória de nossa juventude,das nossas lutas e dos ideais que não morrem.
A última vez que vi o Bergson ele liderava uma passeata na praça José de Alencar, em 1968, acho.Eu trabalhava na Gazeta de Notícias... Depois, nunca mais!!

Um abraço do Augusto César Costa

10 setembro, 2009 16:24  

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